Fins do século XIX (1896), logo após a primeira Olimpíada da Era Moderna, uma equipe sueca fez avaliações médicas de atletas do “ski cross country” -considerada uma das mais desgastantes modalidades esportivas-, e foi observado que os corações desses atletas eram maiores que os da população normal. Outro estudo, da mesma época, mostrou que os corações de cães selvagens eram maiores que os corações dos cães da mesma raça, porém domésticos.
A questão era, se o esporte fazia crescer o coração ou se era um coração doente e crescido de um atleta. Ainda hoje existem questões não resolvidas, mas já podemos entender o que é um Coração de Atleta e como é seu prognóstico. A tecnologia nos ajudou a desvendar dúvidas cruciais e orientar os atletas a superarem seus limites sem correrem riscos cardíacos ou ortopédicos.
Definimos o Coração de Atleta aquele cujo tamanho da espessura das suas paredes e dilatação das suas cavidades até 45% maior que o de um sedentário, batimentos cardíacos que podem chegar a 30 batimentos por minuto em repouso e outras alterações que chegam a confundir um médico não conhecedor da área, com graves doenças cardíacas.
Alterações encontradas no Coração de Atleta
1. Bradicardia (pulsação menor que 60 p/ minuto): é a mais comum alteração encontrada tanto em atletas como em esportistas bem condicionados, principalmente os praticantes de alta performance esportiva (ciclismo, triatlo, maratona, natação oceânica etc). Detectada pelo eletrocardiograma simples.
2. Cardiomegalia (crescimento cardíaco no tamanho e no peso) pode ser confundida com doença cardíaca, nos registros do eletrocardiograma e no ecocardiograma.
3. Sopros cardíacos de caráter benigno ou funcional. Podem ser detectados pela ausculta cardíaca feita por cardiologista.
4. As alterações dos exames cardiológicos, frequentes nos atletas altamente treinados, são reversíveis com a suspensão dos treinamentos e competições a partir de três semanas de afastamento das atividades física
Um atleta ou mesmo um esportista com Coração de Atleta, apenas indica ocorreram adaptações fisiológicas no seu coração, pela atividade física intensa, não significando doença cardíaca atual ou futura. Porém, é conveniente fazer avaliações especializadas periódicas, acompanhando a evolução das alterações e assim orientando o aumento, diminuição e até o afastamento das atividades físicas.
Podemos afirmar que o esporte não mata! Salvo nos excessos físicos e ambientais (temperaturas extremas), uso de drogas lícitas (ex. anabolizantes ou estimulantes), ilícitas (cocaína, maconha, ecstasy), presença de doenças de risco (cardiopatias e outras) desvalorizadas ou desconhecidas pelo esportista.
Nabil Ghorayeb é Doutor em Cardiologia pela FMUSP, Especialista em Cardiologia e Medicina do Esporte, chefe do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e do HCor – Hospital do Coração, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, além de ter recebido o Prêmio Jabuti de Literatura em 2000.